domingo, 27 de novembro de 2011

Aquele Inverno.

No caminho de volta, com o sol gelado deste Outono quase invernal a bater no vidro, surgiu a música através do rádio. Já não a ouvia há muito tempo. Ouvi-a com particular atenção. Perguntei-lhe, enquanto expelia o fumo do cigarro, Enquanto lá esteve... matou alguém?. Pergunta estúpida, desnecessária, fruto da minha inocência ou do enorme desejo de que as coisas não tivessem sido tão más assim. Como se fosse possível. Foram piores do que qualquer pessoa possa sequer imaginar. A pergunta ficou ali, pairando no ar cortante que se adensava no carro. Ele ficou calado, fingindo que prestava atenção à estrada, Há perguntas que não se fazem, concluiu por fim. E a real resposta ficou-lhe estampada nos olhos vidrados pelas lágrimas que não chegaram a cair. 


Após vinte e oito meses e meio, o longo Inverno do meu pai acabou em meados de Agosto de 1974.

Agora lembro aquela fotografia, ele e uma arma, a selva. E um sorriso na boca que nunca lhe aqueceu o coração.

sábado, 26 de novembro de 2011

Obviamente, não lhe doía a ridicularização. Afinal de contas, era um ser completamente desfasado da realidade. Não sentia o escárnio. Não compreendia a ironia dos outros que se lhe colava à pele. Mas pergunto eu, a troco de quê? Depois de umas quantas gargalhadas que, a um dado momento, também findam, quanto mais não seja pelas dores de estômago provocadas, o que leva um ser humano a ridicularizar outro repetidamente? É a mesma coisa que ouvir mil vezes a mesma anedota e, ainda assim, conseguir-se rir na milésima vez o que se riu na primeira. 


E, após tudo isto, que resta? Um amor verdadeiro pela música? Que mal poderá isso ter, uma pessoa entregar-se ao que quer? Haverá, por acaso, maior liberdade que esta? A da entrega sem reservas? Que fosse louca, que fosse. Os loucos têm coragem para fazer aquilo que as pessoas comuns não têm e, mais dia menos dia, morremos todos, é o que é. Os loucos, pelo menos, não vivem limitados. Que sejam loucos. Que sejam. Eu também sou.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Dança dos Dias fala-vos da importância de certas merdas.

Esta é daquelas coisas que é para todos igual. Fizemos na fralda em bebés e, se tivermos pouca sorte (não obstante a relatividade dessa coisa que nos ultrapassa e a que chamamos sorte), é dessa forma que acabamos os nossos dias. Bom, pouco interessa agora para o caso. Aquilo que importa é o já mencionado. A igualdade na necessidade básica e humana de o fazer. Pouco interessa, pois então, que se faça numa sanita banhada a ouro ou num modelo de plástico, pouco interessa se é num penico ou bacio, se é ao ar livre ou onde a vontade apertar. 
Cruzei-me com algumas pessoas dadas a um snobismo quase ofensivo. A forma como eu, sem carecer de verbalização, as fazia descer do pedestal a que subiam por auto-criação era imaginá-las sentadas na sanita. Depois abanava a cabeça, sorria e virava costas. Já tentaram imaginar a Audrey Hepburn na casa-de-banho? Estou em crer que, sentada na sanita, mesmo que fumando elegantemente um cigarro, perdia o porte altivo e aristocrata que a caracterizava.
Pois que seja, repito, na hora de cagar somos todos iguais. 
Agora, deixo-me das conversas de merda e vou tratar do jantar. 
E, novamente, a cada passo que dou em frente, retrocedo.
Perante tal catástrofe interior, tudo o que a minha vista alcança é um enorme buraco negro. O abismo.
Retrocedo. Aquilo que se me apresenta como uma carta fechada pode ser uma espécie de (re)começo. Ou o princípio do fim.
A incerteza do futuro pode tornar-se tão angustiante que chego a acordar a meio da noite para pensar no assunto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Conclusões importantes.

Depois de cinco longas horas de viagem, passei pelo Pingo Doce antes de ir para casa. Alho francês, repolho e cenouras para a sopa de amanhã, penne e duas couvettes de comida pré-cozinhada, uma de empadão de carne e outra de lasanha, para o jantar de hoje.
Depois do empadão, atirei-me à lasanha mas, juro, ficou toda no prato. Depois de testar as do Continente e Pingo Doce, as do Lidl continuam a ser as melhores.
Também continuo a escrever coisas sem interesse.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Eu explico.

- Mas o que é que eu fiz?
- O problema não está no que fizeste. O problema está no que não fizeste.

Isto comprova a minha teoria de como um simples não pode fazer toda a diferença.

O cúmulo da minha preguiça.

Não subir as escadas para ir à sala buscar um isqueiro e queimar uns quantos pêlos da sobrancelha direita no fogão.

Digo-vos, é uma verdadeira tristeza.

Passar um par de horas com a cara suja de chocolate e ser preciso chegar o Sousa, o enfermeiro, para me pôr a par disso.
Devo puxar ao meu pai. É incapaz de comer um gelado de chocolate sem pintar os lábios.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Dodot. Ou assim.

Fui, uma vez mais, atacada pela incontinência verbal aguda. Espero ansiosamente a invenção de fraldas que me mantenham seca e protegida por mais tempo, desde a pontinha dos dedos à pontinha da língua. Em último caso, corto o transmissor do problema.

Ainda sobre animais:

Há dois tipos de pessoas: as do tipo um arranjam cães, gatos, periquitos, canários ou peixinhos, porque andam insatisfeitas com a vida e até se sentem sozinhas e carentes; as do tipo dois arranjam um ou mais destes exemplos porque preferem animais a pessoas.

Oh!

Agora já existem uns cursos muito interessantes para cães. No final, o animal tem direito a um diploma que poderá ser emoldurado e colocado numa parede em casa, bem à vista de toda a gente.
É um orgulho para qualquer dono ter um cão diplomado. Continuo, apesar de tudo, perseverante nas minhas convicções: antes de pensarem na educação do cão, deviam ministrar um curso que eu cá sei ao dono.



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ainda hoje,

fui a casa dela.
Fez cara feia e disse-me com ar acusador:  "Estás magra como uma cadela.".
Às vezes, também diz que não percebe porque é que raramente a visito.



Mãezinha querida, perdoa, mas ainda não é desta que aceito o teu pedido de amizade no facebook.

E hoje está um belo dia...

de chuva.

Venham as meias de lã.

A coisa.

Ainda não sei se acho muito bem essa coisa de se conhecer um homem e, logo no minuto seguinte, mostrar-lhe as parte íntimas. Ora, não critico quem o faz. Cá para mim é que é um aborrecimento dos diabos. Tirar a roupa e mostrar-me assim, como a minha mãezinha me pôs neste mundo sem, antes de mais, um convite para jantar num bom restaurante, sem o gajo dar ares de cavalheiro, ir buscar-me a casa, abrir a porta do carro, abrir a porta do restaurante, ajudar-me a tirar apenas e somente o casaco, puxar a cadeira para me sentar? Onde raio foram parar as boas-maneiras? 
Afinal de contas, lá terei que engolir o pudor com o almoço e ir ao encontro dele. É provável que abra a porta para eu entrar cabisbaixa e ruborizada. Pois que não será precisa a mais leve sugestão para que me dispa, eu mesma o farei. Tudo para que ele me veja melhor.
No final de tudo, saio nervosa e com menos setenta e cinco euros na carteira.
Isto lá pode ser?!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Foda-se, meus!

Ainda consigo surpreender-me comigo mesma. A minha estupidez não conhece barreiras ou limites.
Que tansa que tu és, pá.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ó pá, então e agora?

Posso afiançar, caríssimos, ontem à noite, com o prato em frente à cara e de faca e garfo em riste, um dos meus sonhos foi atropelado por algo semelhante a um camião TIR. Foi-me dito, sem circunstância ou solenidade ou, até mesmo, qualquer pingo de humanidade, que "a comer dessa forma, é provável que fiques gorda quando envelheceres". Primeiramente, vi-me obrigada a interpretar o papel de dama ofendida, fungar, soltar um "achas mesmo?" e suspirar, para depois me dedicar a comer tudo o que tinha no prato, que com a crise que vai não dá p'randar a deitar comida fora, não é? Comi e calei, por assim dizer. Barriguinha cheia e feliz da vida.
Eu cá não sei, mas se deus existe mesmo, tenho a certeza que é um gajo bué da fixe e que vai deixar-me continuar a comer doses industriais de tudo aquilo que me der na real bolha. Certo? Certo.


*Dedicado a uma certa miúda que vive lá para os lados do Olimpo.