quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Pede que me apresse e soam os saltos na madeira à medida que desço as escadas o mais rápido que a minha destreza me permite. Pego nas flores deixadas por mim no dia anterior sobre a mesa da sala e que chegaram vergadas ao calor da viagem. Saímos de casa. Chove. As nuvens cobriram boa parte do céu que se avista e começo a sentir na pele a humidade provocada por cada gota absorvida pelo vestido. Entramos no carro e seguimos no silêncio cortado pela chuva e pelas escovas do limpa pára-brisas. Não me lembro, e isto parece estranho porque não costumo lembrar-me de ter pensamentos vazios, mas não me lembro de pensar no que quer que fosse durante todo o caminho.
Quando chegamos ao grande portão de ferro não se vê ninguém. Seguimos pelo caminho ladeado de gigantescas pedras de mármore, flores, fotografias e vazio. É aqui, ouço-a dizer. Continua a chover, agora com menos intensidade, a terra cedeu à água e os pés enterram-se na terra ensopada.
Olho para a fotografia velada por um grande anjo branco de granito com as asas abertas. Não é que não me lembrasse totalmente dos seus traços, o queixo pronunciado, as maçãs do rosto gigantescas abatendo-se sobre a boca, os lábios finos, os olhos pequenos e sem expressão mas, naquele momento, não me parece o mesmo. O chapéu. Sempre o chapéu. Ela chora copiosamente. Nada digo. O meu primeiro instinto é sair dali. Entrego-lhe as flores quase mortas nos braços e dirijo-me para o portão. Abrigo-me debaixo de uma árvore, um castanheiro, creio. Acendo um cigarro. Não consigo sentir nada. Finalmente, ocorre-me a ideia de que nunca devo ter gostado muito dele.

4 comentários:

Anónimo disse...

Apresentei-me nesse dia com o cabelo irrepreensivelmente curto. Não vesti de preto, não levei flores, não derramei uma lágrima.
Mas o meu cabelo estava irrepreensivelmente curto. Tal como gostavas que o meu cabelo estivesse.
Nesse dia senti-me inexplicavelmente mais forte. Tão forte como dizias ficar o meu cabelo se o usasse irrepreensivelmente curto.


J.A.

Anónimo disse...

:)

Anónimo disse...

Isto não anda?



;)

o anão gigante disse...

Alguém que empurre que isto não anda nem desanda.