domingo, 30 de janeiro de 2011

Quinze anos.

Lembro-me perfeitamente de, nessa tarde quente de Verão, ao ouvir o telefone tocar e levantar o auscultador, ouvi-la dizer do outro lado: "Morreu.". Assim, sem floreados, sem elaborar uma frase para a qual tivesse escolhido as melhores palavras, sem um "Tenho uma notícia terrível para te dar...", só isto, "Morreu.". Estúpida. Sei que repetiu o meu nome três ou quatro vezes mas eu não respondi. Pousei o auscultador vagarosamente e deixei-me ficar sentada no sofá durante, não sei ao certo, dez minutos, uma hora?, olhando a parede amarelada.

Pensando bem, não há uma fórmula aperfeiçoada ao longo dos anos para lidar com esta merda. A morte é certa. É como uma trovoada em que os raios rasgam o céu com fúria e ficamos pasmados a olhar através janela, apreciando aquela coisa magnífica e violenta, mas sem nunca colocarmos a hipótese de um raio nos acertar em cheio na cabeça, de tão remota que é. Também não há forma correcta de se anunciar. Só sabemos que existe. E que há-de acontecer.

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