sábado, 27 de novembro de 2010

Agora aguenta coração, que o Roberto Carlos sabe bem do que canta.

Ocorreu-me a ideia, assim durante uma fracção de segundos, de fazer uma longa dissertação acerca do meu estado de espírito que neste momento deve estar algures entre o sombrio e o sei lá que é isto, porque o meu problema sempre foi o pânico que tenho a tesouras - que também o tenho a agulhas, é certo, mas isso já são contas de outro rosário -, o modo como a tesoura exerce em mim qualquer coisa que nem sei bem explicar o que é, porque sim, a tesoura pode ser um instrumento perigoso nas mãos erradas, e a única coisa em que consigo pensar é nas minhas longas melenas, na tesoura nas mãos do meu cabeleireiro que visito o menos que posso e na inevitabilidade que é o de isso ter que acontecer brevemente, e dói-me o coração quando imagino pedaços de cabelo a caírem no chão e saber que vou dizer "corta o menos que possível", o cabelo continuar a cair no chão, não como um floco de neve, gracioso, mas como uma pancada seca que sinto dentro do peito, e ele a dizer que "não estou a cortar quase nada" e eu sem saber se hei-de chorar, ai a minha vida, se hei-de esganá-lo ou fazer-me valer de requintes de malvadez e torturá-lo só para ele saber que isto é um tormento, porém o que tem que ser tem muita força e volto a referir a inevitabilidade de certas coisas como esta e já que tem que ser que seja por bem, entrego-lhe a cabeça numa bandeja e, até lá, vou pensando qual o resultado que pretendo, se a cor se mantém, se mudo de cor, já não há nenhuma que me atraia, desde o louro platinado ao preto, já experimentei de tudo e então não sei se será boa ideia continuar a pensar no assunto. Dizia eu umas palavras atrás que podia fazer uma longa dissertação acerca do meu estado de espírito que neste momento deve estar algures entre o sombrio e o sei lá o que é isto. Mas não faço.

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