No caminho de volta, com o sol gelado deste Outono quase invernal a bater no vidro, surgiu a música através do rádio. Já não a ouvia há muito tempo. Ouvi-a com particular atenção. Perguntei-lhe, enquanto expelia o fumo do cigarro, Enquanto lá esteve... matou alguém?. Pergunta estúpida, desnecessária, fruto da minha inocência ou do enorme desejo de que as coisas não tivessem sido tão más assim. Como se fosse possível. Foram piores do que qualquer pessoa possa sequer imaginar. A pergunta ficou ali, pairando no ar cortante que se adensava no carro. Ele ficou calado, fingindo que prestava atenção à estrada, Há perguntas que não se fazem, concluiu por fim. E a real resposta ficou-lhe estampada nos olhos vidrados pelas lágrimas que não chegaram a cair.
Após vinte e oito meses e meio, o longo Inverno do meu pai acabou em meados de Agosto de 1974.
Agora lembro aquela fotografia, ele e uma arma, a selva. E um sorriso na boca que nunca lhe aqueceu o coração.
Agora lembro aquela fotografia, ele e uma arma, a selva. E um sorriso na boca que nunca lhe aqueceu o coração.